Cultura

Descobrindo meus familiares artistas – Parte I

May 20, 2024

Costumo dizer que sou o pior tipo de brasileira porque não me encaixo no estereótipo samba-carnaval-futebol. Por ironia do destino, descobri que sou descendente de alguns artistas com forte conexão com o samba e o choro. Pesquisar sobre esse tema tem sido minha nova obsessão nessa última semana. Tudo começou com o falecimento da minha avó agora em maio. A vida pra ela já não estava das melhores, então ela realmente descansou. Resolvidas todas as burocracias, meu pai e eu começamos a construir nossa árvore genealógica e todas as histórias que ela contava sobre nossos parentes artistas foram confirmadas graças à magia da internet.

Encontrei mais informações sobre o Aloísio Silva Araújo (foto que abre o post), já que ele foi o mais famoso. Começou a carreira como pianista e compôs algumas canções em parceria com meu bisavô, Armando Silva Araújo (1905-1988). Você pode ouvir uma delas clicando no vídeo abaixo.

Aloísio nasceu em Nova Friburgo, Estado do Rio de Janeiro-RJ em 18/06/1909. Acompanhou ao piano diversos artistas, em especial o cantor Léo Vilar com quem se apresentou durante bastante tempo. Teve sua primeira composição gravada em 1932, o fox-canção “O dia em que te conheci” lançado por Jorge Fernandes e Domanar pela Columbia. A partir de 1936, compôs várias músicas em parceria com Francisco Malfitano, seu maior parceiro, e com quem compôs seu maior sucesso, o samba “Fui traído”. No blog do Marcelo Bonavides é possível ouvir várias dessas composições.

Correio Paulistano, 28 de novembro de 1936. Fonte

Mas ele ficou muito conhecido por seus programas de rádio e televisão. Na década de 50 esteve na Rádio de Ribeirão Preto, integrando a equipe da PRA-7, Rádio Clube. Na emissora teve colegas como Moacyr Franco (que gravou o samba-canção “É fácil ser feliz”, composta por Aloísio e Fernando César), Rogério Cardoso e vários outros. Já em São Paulo, capital, ficou famoso com o programa “Cadeira de Barbeiro”, que ia ao ar pela Rádio Nacional . Ele fazia dupla com Manoel de Nóbrega (criador da Praça da Alegria), onde Aloísio fazia o barbeiro e Nóbrega interpretava o freguês. Outro programa de sucesso foi: “São Paulo, Num Te Güento”, que ia ao ar pela TV Paulista e pela Rádio Nacional.



No Rio de Janeiro, o programa Praça da Alegria era exibido pela TV Rio, canal 13. O pessoal ia especialmente de São Paulo para o Rio para participar do programa. Manoel de Nóbrega contratou humoristas cariocas para fazer parte do elenco, obtendo um grande sucesso. Com ajuda de Nóbrega e Aloísio Silva Araújo, um novo comediante começou a atuar no papel de um mendigo: Moacyr Franco. Que no carnaval teria o grande sucesso, a música “Me dá um dinheiro aí”. Moacyr Franco cita o Aloísio no minuto 53 do podcast abaixo, gravado esse ano. E no vídeo acima, Aloísio é citado em 7:19 (o rapaz pronuncia o nome dele errado, mas tudo bem).

Aloísio foi casado com Lúcia da Costa Silva Araújo e pai de três filhos: Marcos, Fernando e Marta Silva Araújo (primos do meu avô). Marta tentou a carreira artística, porém não consegui encontrar mais informações sobre ela. Marcos (1937-2012) também seguiu carreira artística e tocava contra-baixo na Orquestra de Cordas Dedilhadas de Pernambuco com a qual gravou o LP homônimo lançado pela Funarte e, posteriormente, relançado em CD. Tocou ao lado de Ivanildo Maciel, João Lira, Henrique Annes, entre outros. Também atuou como professor no Conservatório Pernambucano de Música. Participou de vários festivais, como o V Festival Internacional da Canção, no Rio de Janeiro, do Festival de Viña del Mar, no Chile, e do Miden, em Cannes, França. 


Marcos e seu contra-baixo no canto esquerdo. Foto por Antônio Saggese. Fonte.

Em 1964, dedicando-se à pintura, Aloísio deixou seis quadros seus expostos na Galeria Astréia. Aos poucos foi se afastando do rádio e da tevê. Faleceu em 03/06/1974, em São Paulo-SP e sua morte foi sentida em todo o meio artístico. O programa “Viagens para a Vida”, apresentado pela atriz Vida Alves (avó da cantora Tiê), pela TV Record de São Paulo, foi totalmente dedicado à sua memória. Ali compareceram Manoel de Nóbrega, Chocolate, Walter Ribeiro dos Santos, Zilda Cardoso, e vários outros artistas, com o intuito de prestarem homenagem à vida e à obra não só de um grande profissional, mas de um grande amigo.

O nome dele é encontrado escrito de várias formas, o que torna a pesquisa um pouco mais complicada. Mas cruzando informações de várias fontes, foi possível perceber que todas elas se referiam à mesma pessoa. No blog Baú do Maga foi onde encontrei mais imagens. Muito obrigada, Magalhães Júnior por ter postado todas essas informações lá em 2014. Outras fontes usadas na pesquisa: Museu Brasileiro de Rádio e Televisão, Casa do Choro, Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, Instituto Moreira Salles, Alesp e Family Search. O restante das fontes estão linkadas ao longo do post.

Falarei sobre meu outro tio-bisavô que também era pianista e compositor em outro post porque esse já ficou enorme. Me contem aí nos comentários se tem alguém na família de vocês que lembra desses programas ou conhece essas músicas. Me diverti bastante fazendo essa pesquisa e vou adorar descobrir se tem alguém por aí que conhece algo citado aqui.

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