Finalmente, assisti a comentadíssima minissérie da HBO sobre o maior acidente nuclear da história. Lógico que não podia faltar um post sobre essa minissérie depois de passar mais de 4 anos registrando minha experiência morando no país onde tudo aconteceu. Fiz a foto acima em agosto de 2015, quando visitei a zona de exclusão. O novo sarcófago só ficou pronto em 2016, então ainda vi o reator 4 com a cobertura que foi construída em 1986 e você pode conferir as fotos e ler o relato dessa experiência clicando aqui.
Além de assistir a minissérie, ouvi também alguns podcasts da HBO com o criador/roteirista/produtor Craig Mazin, onde ele explica vários detalhes da produção e de todo o trabalho de pesquisa feito antes da série ser exibida. Ele começou a escrever o roteiro em 2015 e se inspirou bastante no livro “Vozes de Tchernóbil”, escrito pela jornalista Svetlana Aleksiévitch. Ela recebeu o prêmio Nobel de Literatura em 2015 e foi ao Brasil como uma das convidadas da FLIP de 2016. Logo após ler o livro dela, escrevi um post com várias informações que não estavam na edição lançada pela editora Companhia das Letras e um vídeo de uma entrevista com a autora. Clique aqui caso queira ler o post.
Vou transcrever aqui um trecho do que ela diz no vídeo que linkei no post citado acima: “Eu o enxergo como um governante autoritário e nós não entendemos isso de início, nós pensávamos que ele, como aluno de um dos nossos muitos democratas, que infelizmente morreu muito cedo, nós pensávamos que Putin escolheria o caminho da democracia, e, no entanto, foi o contrário. É um desses períodos em que tudo volta como no passado, ou seja, novamente o objetivo é fazer da Rússia grandiosa, novamente a filosofia de que os EUA e a Europa são nossos inimigos, que nós somos de alguma maneira distintos do resto do mundo e devemos ser temidos, e só então seremos um Estado de verdade. Ou seja, as mesmas coisas que eram faladas nos tempos da URSS. Se hoje você entrar na internet, verá que há centenas, até milhares de pessoas que não concordam com isso. Hoje Putin é um grande problema, não apenas para a Rússia, mas para o mundo.“
No vídeo abaixo, Craig Mazin explica um pouco sobre qual foi a motivação para escrever o roteiro, o processo de pesquisa e qual linha narrativa ele queria seguir e o livro da Svetlana o fascinou porque apresenta o custo e o aspecto humano de todos os eventos. Ele conta também que muitas pessoas que viveram na Ucrânia e na Bielorrúsia naquela época foram entrevistadas porque ele queria ser fiel a todos os aspectos culturais e aos elementos que faziam parte do cotidiano daquelas pessoas naquele período. De fato, a série entrega tudo isso. Há uma preocupação com os detalhes e a produção é impecável.
“O que eu quero que os telespectadores compreendam mais do que qualquer coisa, é que se você mente, se você faz parte de um sistema que mente, se você é alguém que concorda com as mentiras que são contadas a você, seja pelo seu governo, pelos seus líderes, pelas sua igreja, pelos seus amigos, pelo facebook, há um custo atrelado a isto. A verdade está sempre aí. Atualmente, vivemos num período onde há um ataque global à verdade e nós nos confortamos com histórias porque elas são reconfortantes. É difícil dizer, por exemplo, que o clima está mudando, que há uma ameaça à nossa existência. É bem mais fácil dizer que não parece estar mudando hoje. Bem, você pode fazer isso por um tempo, mas eventualmente a verdade aparece e nós não podemos nos esconder dela e Chernobyl é uma história sobre o que acontece quando as pessoas colocam mentiras acima da verdade”.
Quem ainda não assistiu, precisa assistir porque essa minissérie é extremamente relevante, a produção é impecável, a fotografia é linda, ela é educacional porque explica como e por quê a explosão aconteceu e como o governo lidou com a situação. Lógico que o governo russo não gostou nada dessa série, mas isso não reflete a opinião das pessoas que viveram na União Soviética. Há muitas testemunhas vivas e como o Craig Mazin disse, não podemos nos esconder da verdade. Segue abaixo o trailer da minissérie.
Ainda não terminei de ouvir os podcasts com o Craig Mazin, mas eles estão disponíveis no canal da HBO no youtube, no Spotify e acho que no itunes também. É um podcast para cada episódio e mesmo que você não tenha assistido a série, acho que dá pra ouvir sem estragar a experiência e acho que até ajuda a entender melhor a minissérie se você ouví-los antes. Vou deixar abaixo um vídeo do canal Ushanka Show comentando e trazendo informações que não estão na série. Sergei Sputnikoff nasceu em Kiev, em 1971 e ainda morava lá quando o acidente aconteceu em 1986. Ele lembra de várias coisas da URSS e eu adoro saber de todas as histórias de quem viveu lá.
Quem aí assistiu “Chernobyl”? Me contem aí nos comentários dizendo o que acharam. Reconheceram algo que já comentei aqui? Identifiquei várias coisas que eu vi enquanto morava na Ucrânia. Se quiserem, faço um post contando.
Assisti esse fim de semana, Ale! Achei realmente muito boa, “tudo aquilo” que a media prometia e também achei muito educativa, por que eu mesma nao sabia sobre muitas coisas da tragédia, inclusive a gravidade! Por um lado achei que a série retratou bem que, apesar de que a tragédia causou danos horríveis e irreparáveis, poderia ter sido pior se nao fosse pelo esforço dos cientistas e do governo. Mas claro, poderia ser evitada, assim como um monte de “pequenas tragédias” causadas pela URSS , muitas que até hoje podemos sentir vivendo nos países do Leste Europeu…
Oi Ana! Muito legal que você assistiu e comentou porque você também viveu no leste europeu e tb viu com os próprios olhos o impacto que a URSS teve nesse lado da europa. Eu sabia da gravidade porque cresci ouvindo falar muito de Chernobyl ali no início dos anos 90. Esse lado da série de mostrar a persistência dos cientistas é uma das coisas mais fascinantes dessa minissérie. Até mesmo pra mim que visitei o museu de Chernobyl umas 5 vezes, assisti um bando de documentários, visitei a área e li o livro da Svetlana, a série ainda conseguiu trazer fatos surpreendentes. Vale muito a pena investir um tempo assistindo e ao mesmo tempo se informando com essa minissérie. Beijão!
faz post sim que eu amo ler essas coisas, ainda mais sob a tua perspectiva 🙂 e já assisti a série também. gostei tanto que toda hora eu pausava pra comentar alguma coisa com o toni e o coitado só me olhava tipo “para que eu ainda quero assistir, sem spoilers!”. que nervoso que dava HAHAHA tipo de série que tu precisa compartilhar com alguém né? muito foda! e isso de explicarem o motivo da explosão, o desenrolar de tudo, caramba. personagens que eu queria ser amiga! AAAAAAA ♥ agora tô é louca pra ler vozes de tchernobil 🙂
sim, falou tudo! tipo de série que você PRECISA compartilhar com alguém, especialmente nesses tempos que estamos vivendo. foi assim que me senti quando li o livro, mas cadê o povo que leu o livro pra eu comentar? ainda bem que teve alguém renomado que tb achou necessário que essa história alcançasse mais gente e criou essa minissérie maravilhosa. Muito obrigada por assistir e comentar, Bazinha. Vou me empenhar aqui pra escrever um post. :-**
[…] acidente na usina de Chernobyl. Nessa época, a Alemanha era dividida e se você assistiu a série “Chernobyl” da HBO, vai lembrar que há um momento em que um dos personagens fala que, em Frankfurt, os pais foram […]
Sem dúvida uma das melhores séries que vi até hoje. Já tinha algum conhecimento da história muito à custa de ter lido o livro da Svetlana que comprei depois de ler a tua recomendação aqui no blog (obrigada!). Logo no início da série consegui identificar as semelhanças com o livro pela cena do bombeiro, agora ao ler isto realmente confirmo que Craig teve o livro em conta. Depois de ver a série li mais sobre o assunto e vi alguns documentários e é realmente incrível como é fiel à realidade. Recomendo sempre aos meus amigos que vejam a série e leiam As Vozes de Chernobil (aqui não usamos o “T” :p)!
Oi Sandra! Bom ver tua participação aqui novamente. 🙂 Me senti muito influencer por você ter lido o “Vozes de Tchernóbil” haha Sim, é bem fiel à realidade e achei admirável o cuidado que a equipe teve com esses detalhes. Fico muito feliz que você entenda a importância e relevância do tema e recomende aos teus amigos. Tentar conscientizar ao menos as pessoas à nossa volta é o mínimo que podemos fazer.