Viagens

Lisboa em 35mm

June 19, 2020

Falei neste post que o próximo seria sobre a visita à Lisboa, mas surgiu uma quarentena no meio do caminho e não tinha muito clima para postar sobre viagens. Estas fotos foram feitas no início de fevereiro, durante a pequena road trip que fizemos entre Portugal e Espanha no último inverno. Fotografei um filme inteiro em um dia, coisa que nunca tinha feito antes. Foi uma delícia passear com calma pela capital portuguesa num dia nublado. O friozinho estava na medida, tudo que precisávamos para subir e descer as ladeiras de Lisboa sem muito sofrimento. No dia seguinte, minhas panturrilhas estavam doloridas, pois não trabalhamos com ladeiras em Amsterdam.

Meu desejo de visitar Lisboa nasceu quando eu ainda estava na universidade e peguei uma disciplina chamada Romantismo Português durante um curso de verão. Viajei para lá por meio da literatura primeiro e ficava sonhando com o dia que eu visitaria de fato a capital portuguesa. Demorou bastante para esse dia chegar, mas chegou e tudo me pareceu muito familiar, era como se eu realmente já tivesse estado ali.

Provavelmente, essa sensação de familiaridade se explica por eu já ter visitado Ouro Preto e por conta da língua também. Foi quase como se eu tivesse ido para o Brasil sem sair da Europa, com direito a pastel com caldo de cana, inclusive. Os portugueses que me desculpem, mas eu estava com saudade.

Nessa época, o corona já estava por aí, mas ainda acreditávamos que era só uma gripezinha e passeamos tranquilamente sem precauções. Mal sabíamos que um mês depois a vida seria bem diferente e sem previsão de voltar ao que era. Olho para essas fotos e penso em como a vida pode mudar da noite para o dia. Tudo é transitório e é preciso lembrar disso diariamente.

Morrendo gloriosamente

Os famosos azulejos portugueses me lembraram a obra da Adriana Varejão que está exposta em Inhotim. E passear pelo Castelo de São Jorge me lembrou as obras do romantismo. Antes de entrar no castelo, fizemos um lanchinho e provamos o bolinho de bacalhau recheado com queijo que vende bem na entrada do castelo.

Havia uns músicos tocando The Doors nos arredores, mas eles não tinham permissão para tocar ali. Chegou um policial e pediu educadamente para eles se retirarem. Eu e marido observamos a cena toda e ficamos admirados com a tranquilidade e a educação do policial. Os músicos recolheram seus instrumentos e saíram sem problemas e sem discussão.

Castelo de São Jorge
Habitante do castelo

O café do hotel em Jerez de la Frontera era muito ruim e a gente saiu à caça de um café descente para tomar em Lisboa. Nos tornamos velhos exigentes hahaha Encontramos esse café escondido dentro de uma loja de roupas e meu marido fez a foto do copo dele. Foi a única foto feita com luz artificial e eu gostei do resultado. Eu não teria feito essa foto justamente por conta da luz artificial, mas é bom saber que o Fuji Superia 400 pode dar resultados legais nessas condições.

Altamente influenciada por “Dark”

Eu estava doida para usar esse filme de novo e adorei o resultado dele em um dia nublado. A outra vez que fotografei com ele foi com sol forte e algumas fotos ficaram bem saturadas para o meu gosto, especialmente os tons de pele. Em Lisboa, fotografei com luz suave o tempo todo e adorei o resultado. Ainda tenho alguns Fuji Superia 400 guardados na geladeira e agora posso usá-los em algum projeto mais pensado.

O hotel que a gente ficou era muito lindo e eu fiz essa última foto no banheiro, pouco antes da gente ir para o aeroporto. Esse espelho ficava no box e o banheiro era bem iluminado por uma janelona, então eu sabia que ia rolar de fazer essa foto. Ela ficou exatamente do jeito que imaginei e eu amo quando isso acontece. Afinal, na fotografia analógica nunca dá para ter 100% de certeza do que vai sair e se vai sair. Especialmente porque meus filmes são todos vencidos, então nunca sei se vai realmente sair algo. Cada filme é uma emoção e eu andava sentindo falta dessa emoção fotográfica.

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  • Adeeh Mello - Blog June 20, 2020 at 12:07 am

    Ai eu adoro tuas fotos e eu nunca canso de dizer isso. Portugal é um dos meus lugares onde assim que puder eu vou visitar e ver toda essa lindeza. Esse post me lembrou um professor meu de Socioantropologia, ele foi fazer doutorado em Portugal e o lar dele desde então é Lisboa. Eu fico encantado com a beleza dos locais que ele posta fotos e faz storys, é lindo, é maravilhoso!

    • Alessandra June 22, 2020 at 9:01 am

      Que feliz que vc curte as fotos, Adeeh! Se não puder ir à Lisboa, vá para Ouro Preto que já vai dar para sentir um gostinho de Portugal.

  • Helen June 20, 2020 at 2:57 am

    Eu tenho um único filme, que venceu porque eu perdi a pontinha dentro quando rebobinei a máquina sei querer. Seu que tem conserto, mas nunca fui atrás.

    Portugal é um país que eu quero muito conhecer, porque ele tem uma parte do Brasil que o Brasil vem destruindo (por mais que os portugueses tenham destruído o Brasil primeiro), que é essa coisa colonial. Nunca visitei Ouro Preto, mas sei que São Paulo poderia ter sido essa lindeza se não tivesse se refeito tantas vezes nos últimos dois séculos. Ainda bem que há um ou outro resquício. Talvez São Paulo seja uma colagem.

    E, falando em colagem, eu estou voltando a ter vontade de fazer fotografias analógicas experimentais. Assim, posso recortar e colar e fazer costuras… Seu post me deu ideias, e eu amei essa fotografia do castelo de São Jorge. Senti vontade de me apaixonar e viver um romance ali num dos cantos das paredes. Me imaginei bem quixotesca, hahaha

    Que a gente sobreviva e ultrapasse essa pandemia pandemoníaca, para poder materializar certos sonhos imediatamente possíveis.

    • Alessandra June 22, 2020 at 9:09 am

      Procura no youtube que certamente alguém já fez um vídeo com algum macete para puxar a pontinha do filme.
      Eu acho um charme essa arquitetura colonial, mas sou suspeita pra falar pq adoro uma velharia hahaha
      Você tem todo o meu apoio para fazer as fotografias analógicas experimentais. Adorei que o post te deu ideias! Quanto ao castelo de São Jorge, fiquei imaginando muitas histórias ali tb.
      Materialize os sonhos durante a pandemia mesmo! Afinal, ainda estamos vivos. Beijos!

  • Taís June 28, 2020 at 11:13 am

    Tenho vontade de conhecer Lisboa, ainda não rolou uma oportunidade e foi otimo viajar um pouquinho por lá atraves do seu post. Adoro suas expeciencias analogicas também e fico aqui babando, essa foto do espelho tá sensacional ♥

    • Alessandra June 28, 2020 at 11:20 am

      Ahhhh que feliz que você curtiu porque eu amo TANTO essa foto do espelho! <3 O problema é que só quero fotografar com analógica agora. Não fico empolgadíssima quando fotografo com digital. Total em crise...

  • Paula A. July 1, 2020 at 11:07 am

    Ôh saudade de Lisboa e da comida! <3
    O castelo foi um dos meus lugares favoritos de visitar, amei ficar sentada lá em cima da muralha vendo o sol se pôr e ouvindo os pavões gritando (cosia que, por sinal, nem sabia que eles faziam! hahah). Suas fotos me deram uma saudade imensa de viajar pra lá. <333

    • Alessandra July 1, 2020 at 11:34 am

      Também curti o castelo e ouvi os gritos dos pavões sem ter a mínima ideia do que era. Daí quando vi aquelas lindezas, fiquei encantada! Quero voltar também porque um dia só foi pouco. :-***

  • Gabi Ramalho July 4, 2020 at 8:04 pm

    Coincidentemente um ex-colega de trabalho postou algumas fotos essa semana de uma viagem que ele fez no ano passado para Portugal e pude revisitar eles agora com as tuas fotos. Imagino que essa sensação de estar no Brasil sem sair da Europa dê um certo conforto, né? Pela língua e costumes mais próximos dos nossos, apesar de tu já estar bem adaptada no país que escolheu pra chamar de casa.

    Adorei a foto ~levemente inspirada em Dark. Vi que tem um post aqui sobre a fotografia, mas não entrei com medo de ver algo que não quero (a recém terminei a segunda temporada, andava com uma certa preguiça de assistir coisas haha).

    • Alessandra July 7, 2020 at 9:13 am

      Sim, foi um conforto, um abraço. Na medida do possível, acho que posso me considerar bem adaptada. Quanto ao post sobre a fotografia de “Dark”, não falei específicamente sobre nenhuma cena, então pode ler sem medo de spoiler. Falei mais do diretor de fotografia e das referências dele.

  • Izzy R. July 6, 2020 at 2:27 am

    Só foto linda, só foto com emoção fotográfica.
    Tenho tanta vontade de visitar e conhecer Lisboa! Achei tão legal a tua motivação para conhecer a cidade (uma disciplina feita no passado) e o teu sentimento de proximidade com o lugar. Você achou pastel frito de feira e caldo de cana em Lisboa? Os azulejos azuis florais também me lembraram a da Varejão. 🙂
    Ah, eu queria te perguntar uma coisinha: como você faz para postar as fotos analógicas aqui, Alê? Você revela e depois scanea? Como funciona?
    Um abraço.

    • Alessandra July 7, 2020 at 9:19 am

      Achei pastel e caldo de cana num lugar bem pertinho do hotel onde fiquei. É fácil achar os quitutes brasileiros em locais onde a comunidade brasileira é grande. Aqui em Amsterdam também tem.
      Sobre as fotos analógicas, eu levo o filme num laboratório para revelar e já peço para eles escanearem. Daí quando está pronto, levo um pen drive e eles salvam os arquivos. Em Kiev eles enviavam um link com as fotos escaneadas para eu baixar. :-***

  • K. July 8, 2020 at 12:20 am

    ai que saudade de fotografar com analógica! nunca usei esse filme e AMEI essas cores, os amarelos ficaram perfeitos nas primeiras fotos. e a foto com luz artificial também ficou com cores lindas <3

    • Alessandra July 8, 2020 at 9:05 am

      Quando for comprar filme, pode ir no Fuji Superia que é sucesso, K.!

  • Sandra July 8, 2020 at 8:51 pm

    Oi Alê! Passei para dar um olá e dizer que fico contente que tenhas gostado de Lisboa! Realmente fotografar com analógica fica com uma vibe completamente diferente e as fotos ficaram lindas! Um dia tenho de experimentar! Só tive uma máquina analógica quando era pequena e não percebia nada do assunto na altura 😀 Espero que esteja tudo bem por aí! Beijinhos *

    • Alessandra July 9, 2020 at 11:05 am

      Oi Sandra! Obrigada por passar para dizer um olá! 🙂 Espero que você experimente fotografar em filme um dia e me conte como foi. Beijos!

  • BA MORETTI July 12, 2020 at 11:05 pm

    é muito louco que a gente começou o ano numa vibe tão slow, vivendo um dia de cada vez, como se sempre tivesse a garantia de ter controle sobre os nossos planos né? tenho me pego pensando nisso com uma certa frequência. coisas que gostaria de ter feito e que adiei por preguiça, por exemplo. enfim, a ideia de não ter controle sobre o dia seguinte e quando/se as coisas vão voltar a ser minimamente seguras nos faz cair nessas reflexões HAHA

    sobre as fotos, sigo amando a forma que registras as coisas e aproveito pra dizer que as minhas preferidas são justamente a do cafézin e a última no espelho ♥

    • Alessandra July 13, 2020 at 9:01 am

      Estou na vibe das reflexões há bastante tempo já, pois #velha hahahha Na real, a gente não tem controle de muita coisa. Feliz que você curte as fotos e amou a do espelho porque ela é a minha preferida. <3

  • Rafaela Ribeiro July 20, 2020 at 9:48 pm

    Faz tempo que eu não fotografo com uma câmera analógica, mas na próxima viagem preciso me aventurar! As tuas fotos são lindas…As minhas favoritas são a primeira e a última! ♥

    • Alessandra July 21, 2020 at 12:00 pm

      Tem todo o meu apoio para se aventurar na fotografia analógica, Rafaela! Tão feliz que você também curtiu a última porque ela é a minha queridinha desse rolo. <3